terça-feira, 7 de outubro de 2014

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O que não funciona para a inclusão do aluno surdo na rede regular de ensino:

Conteúdo descontextualizado - Nós professores, não podemos ver um livro de alfabetização que já queremos comprar e reproduzir (risos)...fiz o teste, mas não gostei da experiência. (utilizei duas vezes e guardei)
Este material seria muito bom se estivesse contextualizado!
O que pode ser feito é usar a ideia, mas com as palavras do caderno do aluno e ilustração do próprio aluno.
Com meu aluno tive poucos resultados, pois ele aprendeu apenas uma palavra no dia que fez esta atividade e ainda passei uma semana fixando para ele não esquecer. Sendo que, trabalhando a partir do caderno do aluno os resultados são de 3 a 8 palavras novas diariamente, pois durante a situação de aprendizagem o aluno terá oportunidade de rever a palavra repetidas vezes. Além disso, conseguirá perceber-se incluído. Veja no exemplo abaixo: o aluno grifou as palavras conhecidas e eu selecionei outras para serem estudas ao longo da situação de aprendizagem. Estas palavras vão para o banco de palavra, posteriormente ao domínio da leitura das mesmas, para o caderno de palavras e por fim aparecerá no caderno de textos ou em atividades solicitadas pelos professores.


Caderno 2 de Língua Portuguesa - Situação de Aprendizagem 1


quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Algumas atividades com palavras-chave de cada aula. O importante não é fazer tudo em um dia, mas um pouco cada dia!

Aula de Língua Portuguesa - Anúncio Publicitário
Aula de Geografia
Aula de Geografia

Aula de Ciências
Aula de História 

Matemática

Em matemática utilizo o ábaco como recurso. Ele sabia somar e subtrair no início do ano. Agora faz multiplicação e divisão. Não deixo usar a tabuada! Prefiro que ele exercite o raciocínio e crie suas próprias estratégias para resolver as atividades.

Caderno de Produção de textos

O aluno tem um caderno de produção de textos. Em casa ele escreve textos apoiando-se no caderno de palavras construído em sala de aula. Ao chegar na classe eu faço a leitura do texto com ele e sinalizo da forma que eu entendi o texto e pergunto para ele se foi aquilo que ele queria dizer.

A escrita está fluindo paulatinamente, porém na leitura fico surpresa às vezes, porque tem momentos que ele percebe sozinho o que o professor quer que ele faça. Por exemplo: o professor escreveu “Façam grupos de 4 pessoas” e de repente ele chamou os amigos para sentarem em grupo. Ele compreendeu a mensagem.


Lista de nomes dos colegas

Trabalhei a lista de nomes dos alunos da classe. Durante a chamada eu sinalizava e o aluno surdo apontava na lista o nome de cada colega.


Dicionário Ilustrado

Fiz um dicionário ilustrado com um banco de imagens e vocábulos da língua portuguesa com aproximadamente 600 figuras. Neste dicionário aproveitei para trabalhar a ordem alfabética e também as quatro maneiras de se apresentar as letras, pois o aluno não conseguia fazer a transferência do conhecimento adquirido de um formato de letra para outro, a palavra reconhecida na leitura, se fosse  escrita de forma diferente não era identificada. Isso é natural, pois o surdo guarda na memória a imagem de cada vocábulo, é como se a palavra fosse uma figura. Sendo assim fiz treinos e apresentava a mesma palavra de várias formas.

Caderno de Palavras

Com o banco de palavras aumentando a cada dia comecei a fazer um caderno de palavras. Neste caderno o aluno colava apenas as palavras que ele reconhecia na leitura e as demais eram separadas em um envelope que chamei de Zona proximal (Vigotsky). Conforme o vocabulário ia aumentando ele se sentia mais confiante em arriscar a escrever.

O caderno de palavras conta hoje com mais de 500 palavras. O aluno domina em média 96% destas palavras na leitura.

O aluno aprendeu 135 palavras em 4 meses
32 palavras em um mês
1.6 palavras em um dia
hoje ele aprende 3 a 6 palavras por dia


Sequência didática para intervir no processo de aprendizagem de forma a incluir o aluno surdo verdadeiramente

Durante as aulas acompanho o aluno com o material que os demais alunos utilizam, ou seja, o caderno do aluno de cada matéria específica. Faço adaptações apenas de conteúdo. Durante as aulas o aluno faz a leitura das palavras que conhece e marca com um traço e pinta de três a quatro palavras novas para serem estudadas ao longo das aulas. Estas palavras são anotadas em um banco de palavras e diariamente são consultadas e sinalizadas.
Caderno 1 do aluno

Avaliação diagnóstica – Produção de texto.



O texto foi escrito entre a segunda e a terceira semana de aula. A proposta era escrever um texto sobre o gato Singapura que havia sumido. Porém o conteúdo do texto apresenta-se confuso, com palavras soltas e algumas escritas por um amontoado de letras sem significado, pois na hora de ler o aluno não conseguia decodificar o que havia escrito (palavras com asterisco)

Como trabalhar o currículo com alunos surdos que chegam ao Ensino Fundamental II sem os requisitos mínimos de leitura e escrita?

Criei este blog para compartilhar minhas experiências como interlocutora de um aluno surdo, 22 anos, 8 º ano. 

O ponto de partida é um atendimento individualizado em que a  afetividade foi essência para resgatar a autoestima deste aluno, que por anos frequentou a escola apenas como um estrangeiro em seu próprio país, muitas vezes um cidadão invisível e anônimo.
Vou postar aqui algumas intervenções e adaptações de conteúdo que utilizo.


Nos primeiros dias de aula propiciamos um ambiente socializador, momentos de apresentação socialização em que, Pedro e eu ensinamos aos alunos ouvintes os primeiros sinais, BOM DIA, TUDO BEM e o alfabeto.
Todos os alunos receberam um sinal, que digo que eles foram batizados na língua de sinais. Os professores também receberam sinais.


Bilinguismo, alfabetização e letramento

       Rocha (2010) enfatiza que o bilinguismo proporciona a inclusão do deficiente auditivo nas salas regulares de ensino, pois oferece e tem por objetivo primeiro o reconhecimento e a aceitação social.  De forma que a aquisição da linguagem acontece nos momentos em que nos relacionamos com nosso círculo social. O bilinguismo não privilegia a fala. Esta filosofia tem sido alvo estudos, pois divulga e estimula o uso da língua de sinais, pois esta lhes é natural. A autora apud (GOLDFELD,1997) diz que depois da exposição a língua de sinais é que o surdo consegue desenvolver-se linguisticamente e cognitivamente sem maiores entraves. 
Quadros (1997), explica que esta proposta de ensino pretende expor o indivíduo surdo à duas línguas dentro do contexto escolar, respeitando a Libras estruturando o planejamento escolar sem interferir no desenvolvimento lingüístico e psicossocial do surdo. Então dentro da sala de aula as matérias devem ser explanadas em Libras e o português deve ser enfatizado apenas na escrita, dando espaço para recursos visuais, pois o letramento acontecerá através destes recursos.
Souza at al (1999) explana que a proposta de educação bilíngüe oferece oportunidade ao surdo de ser educado através da língua de sinais. É necessário, conquanto que seja disponibilizado e ensinado a função social da libras, enquanto língua mãe (L1), bem como do português escrito como segunda língua (L2). De forma que esta só pode ser desenvolvida depois que aquela já tenha sido apropriada. A L1 é um meio eficaz de produção de conhecimento, pois facilita a aquisição da L2.

Para tanto o professor bilíngüe deve ter em mente que existem várias diferenças entre a língua de sinais e a língua portuguesa, como exemplo, podemos citar as conjunções e preposições que na língua de sinais não existem, mas que na portuguesa exercem papel importante para a significação e compreensão das frases. Rocha apud (PERRENOUD, 2000) declara que “ensinar é também estimular o desejo de saber”. Desta forma cabe ao professor utilizar meios para que o aluno surdo sinta-se estimulado a sair da zona de conforto e aventurar-se pelo mundo do conhecimento, conteúdo a ser ensinado.